“Existe
uma lacuna muito grande entre a compreensão a vários fatores dessa população
[LGBT]. Desde a porta de entrada às Unidades de Saúde da Família até às falhas
das redes”. Foi com essa reflexão que a conselheira e coordenadora da Comissão
de Educação Permanente do Conselho Municipal de Saúde (CMS) do Recife, Íris
Maria, iniciou a abertura da Roda de Diálogo, realizada na última quinta-feira
(23), que teve como pauta, a discursão e identificação de melhorias para a
saúde da População LGBT.
Também
presente na Roda de Diálogo, o coordenador do CMS-Recife, Cristiano Nascimento,
aproveitou a oportunidade e fez uma reflexão sobre o debate. “Esse é um momento
que nos permite entender que essa é a realidade de vários, onde temos que
identificar e dar o suporte técnico necessário. É um momento ideal para
formação e construção coletiva”, disse.
Convidada
para o debate, a representante da Política Municipal de Saúde a População LGBT
do Recife, Tarcilla Sousa, trouxe a necessidade de aprofundar o tema que tem o
objetivo de enfrentar as injustiças e as desigualdades na saúde com foco na
população LGBT e consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS) como igual,
universal, integral e equânime para todos.
Em
sua fala, Tarcilla esclareceu dúvidas a respeito das dificuldades de acesso e
reconhecimento, a exemplo das pessoas transexuais e travestis, que vivem
expostas a riscos, que hora ou outra, levaria a morte. “Travestis morrem desde
década de 60, 70. As travestis estão morrendo por uso indevido de silicone há
muitos anos. Isso é um problema de saúde pública e precisamos entender e
capacitar todos que trabalham direta e indiretamente com essa população”,
disse, se referindo à inclusão da diversidade em todos os ambientes.
A
falta de informação é um grande problema enfrentado pela Política e isso foi
sentido nas falas dos presentes. “Não existe um material informativo para dizer
aos usuários que existe uma política direcionada para uma população específica”,
disse Rosangela Berto, secretária-Executiva do Conselho Distrital de Saúde
(CDS) II. Para Rosangela, é preciso ter alguma campanha direcionada para dar
visibilidade para a Política.
Outro
ponto amplamente discutido foram os desafios enfrentados pelos LGBT no seu dia
a dia nas Unidades de Saúde. Desrespeito, falta de humanização por parte dos
profissionais, preconceito atrelado à religião, são alguns dos pontos que foram
relatados durante a roda de diálogo. A conselheira Leonilde Cunha, também
lembrou que os terreiros de matriz africana são negligenciados e que essa
questão precisa ser revista. “Precisamos levar esse tipo de conhecimento para os
terreiros, onde podemos falar sobre AIDS e sífilis para a comunidade, uma vez
que muitos dos que frequentam os terreiros são homossexuais e lésbicas e acho
que é necessário ter uma orientação para que entendam o processo de prevenção, diagnóstico
e tratamento”, disse.
Também
convidada para o debate, a representante do Coletivo ‘Vamos de Preto!’,
Gabriela Conde, desmistificou um pouco a bissexualidade. “Precisamos retirar o
estigma que ser bissexual é ser promiscuo. Não é bem assim. Hoje estou num
relacionamento com um homem, mas posso, também, me apaixonar por uma mulher e
querer viver com ela”, disse. A inclusão e aceitação por parte da sociedade é a
grande barreira para o “B” da sigla LGBT. “As perdas não são somente físicas
[como uma agressão], mas também são as negligências [descaso na saúde] e
aspectos psicossociais”, finaliza Gabriela.
Embora
haja toda uma problematização quanto à saúde da população LGBT, é importante
ressaltar que Recife possui um ambulatório LBT e o ambulatório LGBT – Patrícia
Gomes que funcionam no Hospital da Mulher e na Policlínica Lessa de Andrade,
respectivamente, e esses serviços são de suma importância para manter essa
população assistida.
A
Roda de Diálogo contou com a participação de conselheiros(as) do CMS-Recife,
representantes dos Conselhos Distritais de Saúde (CDS), dos Distritos
Sanitários, do Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de Pernambuco
(COMLESBI/PE) e da ONG Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero.
A
pauta trouxe para o debate, a real necessidade de entender o novo espaço
conquistado pela população LGBT, juntamente com a importância de estar sempre
em harmonia com o próximo e de conhecer o movimento como um todo, trabalhando para
quebrar os paradigmas e o tabu que a sociedade ainda impõe. Alguns
encaminhamentos foram dados e a comissão de Educação Permanente irá fomentar
uma campanha para dar maior visibilidade à Política, além de convidar os CDS
para uma reunião específica para ampliar o conhecimento sobre a população LGBT.
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